“Ora, antes de morrer no Alcáçar de Coimbra, o Senhor D. Sancho suplicara a Tructesindo Mendes Ramires, seu colaço e Alferes-Mor, por ele armado Cavaleiro em Lorvão, que sempre lhe servisse e defendesse a filha amada entre todas, a Infanta D. Sancha, senhora de Aveiras.”
Esta dúvida, porém, não angustiara a alma desse Tructesindo rude e leal que o Fidalgo da Torre rijamente modelava. Nessa noite, apenas recebera pelo irmão do Alcaide de Aveiras, disfarçado em beguino, um aflito recado da senhora D. Sancha — ordenava a seu filho Lourenço que, ao primeiro arrebol, com quinze lanças, cinquenta homens de pé da sua mercê e quarenta besteiros, corresse sobre Montemor.(…)
“No entanto o irmão do Alcaide, sempre disfarçado em beguino, de volta ao castelo de Aveiras com a boa nova de prestes socorros, transpunha ligeiramente a levadiça da cárcova…”
Desta forma descreve Eça de Queirós a existência de um castelo em Aveiras de Cima na história-dentro-da-história do livro “A Ilustre Casa de Ramires”, em que o protagonista, Gonçalo Mendes Ramires, escreve um romance histórico tendo por base os seus antepassados e a sua intervenção em acontecimentos históricos ocorridos durante o século XIII.
A história relata a defesa dos domínios da Infanta D. Sancha, Senhora de Aveiras, na disputa com o seu irmão, o rei D. Afonso II, em que toma parte Tructesindo de Ramires, antepassado do protagonista do romance de Eça de Queirós. Como herança do pai de ambos, o rei D. Sancho I, o Povoador, D. Sancha tinha recebido o Castelo de Alenquer com o resto do termo da vila (onde se incluiria o hipotético Castelo de Aveiras), e todos os rendimentos aí produzidos. Era um vasto património que o rei D. Afonso II sentia constituir uma ameaça à sua autoridade régia.
“Mas eis que rompe a fera contenda entre Afonso II, asperamente cioso da sua autoridade de Rei — e as Infantas, orgulhosas, impelidas à resistência pelos freires do Templo e pelos Prelados a quem D. Sancho legara tão vastos pedaços do Reino! Imediatamente Alenquer e os arredores doutros castelos são devastados pela hoste real que recolhia das Navas de Tolosa”.
Trata-se de uma história ficcionada, mas baseada em eventos reais. A história de Tructesindo Ramires é ficção de Eça, mas o conflito entre o rei e a irmã é um facto histórico.
Não se conhecem fontes históricas que confirmem a hipótese de ter existido um castelo em Aveiras de Cima, mas há pelo menos um elemento que pode corroborar essa hipótese.
Na atual Igreja Matriz de Aveiras de Cima existem várias estelas funerárias que ostentam as cruzes dos Templários e de Avis, pelo que terão pertencido a sepulturas de cavaleiros destas ordens militares. Estas estelas podem ser vistas quer no interior, quer no exterior, da Igreja Matriz.
A atual igreja é de construção relativamente recente. Foi concluída em 1954, e erigida no mesmo local da anterior igreja, de estilo neoclássico, que ruiu.
Não sendo provável que um tão grande número de estelas tenha sido transportado de qualquer outro lugar até aqui, a hipótese mais plausível é a de que tenham vindo de uma necrópole aqui existente. E existiu onde?
Ou num templo anterior, contemporâneo dos acontecimentos narrados na "história-dentro-da-história" "A Ilustre Casa de Ramires".
Ou num castelo, como o que é referido por Eça de Queirós, guardado pelos cavaleiros que depois foram aí sepultados.
Este ponto está situado na localidade Aveiras de Cima