A primeira ideia que nos surge quando se fala do Bussaco é o Palácio ali existente, mandado edificar no século XIX, sob o estilo manuelino. No entanto, atrás deste palácio existe muito mais, algo mais grandioso.
Bussaco trata-se de uma serra situada no centro do país, centralizando-se na zona da Bairrada com três concelhos à vista, os da Mealhada, Mortágua e Penacova. Um verdadeiro paraíso natural com paisagens deslumbrantes e um património cultural rico.
Em tempos conhecida como Alcoba, é esta mancha verde que se eleva a 549 metros de altitude na zona do marco geodésico, com aproveitamento das águas de Luso e Caldas de Penacova. A situação geográfica da Vila de Luso é favorável, permanecendo nas encostas da serra, podendo mesmo dizer que é o centro das partidas e chegadas.
É precisamente numa extensão da Serra do Bussaco que um dos concelhos, neste caso o da Mealhada, goza da famosa Mata do Bussaco, um verdadeiro Monumento Nacional.
Mata do Bussaco, um pequeno paraíso que se reserva para quem a visita, demonstrando a possível conjugação entre o verdadeiro sentido da natureza e o sentido de conservação por parte do ser humano. Uma fortaleza que rodeia o mundo das árvores, servindo igualmente os desejos da Ordem Religiosa que ali se instalou, no isolamento total com o mundo.
Considerada como uma das maiores reservas de biodiversidade de Portugal, com cento e cinco hectares de extensão, com o maior número de espécies de árvores e arbustos, muitas delas seculares. Um verdadeiro Bosque Sagrado com uma das melhores e mais majestosas coleções dendrológicas da Europa
Este museu da natureza ao ar livre deve-se à Ordem dos Carmelitas Descalços que, no início do século XVII, plantou a Mata Nacional do Bussaco. Igualmente foi responsável pelo Convento de Santa Cruz do Bussaco, destinado a albergar a Ordem e, finalizando a autoria da mesma Ordem, a cerca da mata erigida para se isolarem do mundo e poderem ter uma maior proximidade com Deus.
Nada melhor que começar por falar da cerca que nos separa do mundo fantástico de cento e cinco hectares, sendo no entanto possível a intromissão na mata através das suas nove portas existentes:
1 - Porta do Luso - Com um cenário um pouco desmazelado, tendo como contrapartida um bonito pórtico com grades em ferro, pilastras e cantarias, com as armas reais e as do Carmelo a encimar a obra de arte e a definir a autoridade e a propriedade da floresta. Abre para a Estrada Nacional 235, com destino para Lorvão e Penacova.
Coordenadas GPS da Porta do Luso: N 40 22.870' W 008 22.599'
2 - Porta das Ameias - Mais a sul da Porta de Luso, na continuação da Estrada Nacional, defrontamo-nos com a porta de Ameias que dá acesso ao Palace Hotel do Bussaco, e por isso é das poucas que permite a entrada de automóveis. O nome provém do remate do arco, constituído por sete ameias a encimar todo o pano abrangente da porta em pedra.
Coordenadas GPS da Porta das Ameias: N 40 22.780' W 008 22.569'
3 - Porta das Lapas - Na mesma estrada nacional, mais a sul das duas anteriores, a Porta das Lapas é a única que está encerrada, como está muito mal tratada numa verdadeira ruína, com a compensação de três mesas em pedra para o caso de querer merendar ao lado de um portão de 1900. Não há melhor vista.
Coordenadas GPS da Porta das Lapas: N 40 22.680' W 008 22.349'
Coordenadas GPS das Portas de Coimbra: N 40 22.497' W 008 22.223'
5 - Porta da Cruz Alta - Simples porta que se situa próxima da entrada sul da cerca que delimita a propriedade com acesso à Cruz Alta. Teve a sua importância na história de Portugal e da região.
Coordenadas GPS da Porta da Cruz Alta: N 40 22.260' W 008 21.942'
6 - Porta da Sula - Um interessante portal com a parte central uniforme com os muros laterais, torna o conjunto bastante interessante e agradável. O acesso é feito só por peões, estando próximo do Monumento Comemorativo da Batalha do Bussaco e com um parque para automóveis no exterior. Este portal situa-se muito perto da Estrada Nacional 234, com destino a Mortágua, Santa Comba Dão e Viseu, e próximo da localidade Sula, e daí o seu nome.
Coordenadas GPS da Porta da Sula: N 40 22.489' W 008 21.533'
7 - Porta da Rainha - Situada para norte da porta de Sula, esta é uma das três portas da mata do Bussaco. Os Frades Carmelitas mantinham-na sempre fechada, tendo sido aberta em 1693 para a visita da Rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança, que pretendia vir ao Bussaco por razoes de fé. A visita não chegou a ter o efeito, tendo sido entaipada. Foi reaberta em 1704, quando por aqui passou o rei D. Pedro II.
A porta foi restaurada no século XIX e consequentemente mantiveram-na aberta, tirando um pouco a importância da Porta de Sula situada a poucas centenas de metros, e que era até então a principal entrada para o interior do reino.
Coordenadas GPS da Porta da Rainha: N 40 22.673' W 008 21.670'
8 - Porta de Serpa - Muito próximo da Vila de Luso, esta é uma das três portas que dão acesso aos automóveis, ligando-se à Estrada Nacional 234.
Coordenadas GPS da Porta do Serpa: N 40 22.814' W 008 22.295'
9 - Porta de São João - A porta de São João liga-se ao cento da vila através de uma escadaria a leste da Av. Emídio Navarro, através da Rua da Porta do Buçaco.
Coordenadas GPS da Porta de São João: N 40 22.871' W 008 22.364'
10 - Porta dos Degraus - Situada próxima da porta de São João, tal como essa liga-se ao cento da vila pela Av. Emídio Navarro, através da Rua da Porta do Buçaco, e com acesso por um conjunto de degraus, daí o seu nome. Também não há fotos desta porta.
Coordenadas GPS da Porta do Degraus: N 40 22.840' W 008 22.431'
O interessante percurso da Serra do Bussaco que começa por pertencer ao Mosteiro Beneditino de Vacariça desde o século VI, vai sofrer uma alteração no século XI quando o Mosteiro em questão passa a pertencer ao Bispado de Coimbra.
É no entanto no ano de 1628 que tudo acontece, quando D. João Manuel, Bispo Conde da cidade de Coimbra, doa as matas e terras denominadas de Bussaco aos Carmelitas Descalços. Dá-se então o início da conhecida mata do Bussaco.
Os Frades deram início à edificação do Convento e em simultâneo à introdução das plantas exóticas.
Passaram-se dois anos, e as principais obras estavam concluídas juntamente com a Porta de Coimbra, a então portaria da mata. Quase dois séculos passados, o Convento fechou resultado da extinção das Ordens Religiosas em 1834.
Dada a natureza deste maravilhoso mundo de céu aberto, bastante intenso, serviu de cenário para que os Frades Carmelitas edificassem ermidas e a Via Sacra, para tornarem um ambiente completamente profundo de isolamento nas suas orações. Como tal, criou-se o que se chama um trilho da Via Sacra.
O espaço da mata sofreu um incêndio e os Frades insistiram na arborização do espaço com as plantas exóticas, sendo esta uma das profecias da Ordem.
Entretanto, entre os anos de 1638/46 dá-se a fundação das Ermidas da Nossa Senhora da Expectação, de São José e do Santo Sepulcro. Em 1650/51 surgem as Ermidas de São João do Deserto e de São Miguel.
No final do séc XVII e princípios do XVIII, Manuel Saldanha, reitor da Universidade de Coimbra, manda instalar na mata do Bussaco uma Via-Sacra constituída por várias capelas representativas dos Passos, edificadas ao longo da Av. do Mosteiro.
O Sacramonte do Bussaco datado de 1644 é fruto do Sacramonte criado em Itália no século XV, quando Jerusalém se encontrava sob o domínio do Império Otomano. Esta foi a forma de recriar a Cidade Santa, recorrendo a capelas onde se representam os passos da Prisão e Paixão de Cristo.
Esta representação é constituída por um conjunto de edifícios e capelas que simbolizam a cidade de Jerusalém, sendo palco de martírio de Cristo e a única réplica real da existente em Jerusalém.
Foi de Manuel Saldanha, como reitor da Universidade de Coimbra, que a ideia surgiu na Via Crucis no deserto Carmelita do Bussaco, mais próximo da tipologia dos Calvários Medievos.
Os vinte Passos da Via Sacra dividem-se em duas partes, Passos da Paixão e Passos da Prisão. Os catorze Passos da Paixão albergam grupos escultóricos de terracota realizados nos anos trinta do século XX.
Na sequência da obra realizada pelos Frades Carmelitas Descalços resta apenas o principal, o Convento. Convento este que se edificou no início do século XVII, precisamente no período em que o Reino de Portugal era governado pelos Filipes de Espanha.
Está-se no ano de 1628 em que a fundação do Convento dos Carmelitas Descalços se concretiza, após dois anos de procura de terreno. Acabou por se realizar nas terras e nas matas pertencentes ao Bispado de Coimbra, sitas na Serra do Luso, com autorização do Papa de então, Urbano VIII.
É igualmente neste ano que decorre a escolha dos Frades Carmelitas para a instalação do Convento e início da construção com a data inscrita no arco de central do átrio.
No ano seguinte dá-se a construção da casa da livraria, adaptada em capela provisória, e em 1630 o convento já se encontrava habitado.
Em 1652 é posto o sino na portaria do convento. Durante cento e oitenta anos o convento assistiu à construção da Via Sacra, das Ermidas, da presença de civis e militares e heranças, até que se dá o ano fatídico de 1834 para as Ordens Religiosas, com a extinção destas.
As autoridades de Vacariça, então como concelho, apareceram no convento para realizarem o auto de apreensão de tudo que pertencesse ao convento, tendo ficado o último Frade António de Santa Lúzia como arredentário da mata e convento.
Em 1838 o Governo Nacional decide excluir o convento e a Mata do Bussaco da lista de bens a vender. No ano de 1639 a capela começa a ser usada como igreja, tendo o arrendatário recebido paramentos.
Entretanto as ermidas e as fontes vão sendo restauradas, acontecendo igualmente em 1870 uma campanha de obras de restauro. Este projeto da Mata de Bussaco pode-se dizer que começa a ser problemático devido à sua dimensão e talvez um pouco perdidos quanto ao que fazer. Assim, em 1884 demoliu-se uma ermida para dar lugar a um chalé, e em 1887 dá-se início a um projeto de Luigi Manini para um palacete régio.
Foi então iniciada em 1888 a construção do Palácio Real, atualmente conhecido como Palace Hotel Bussaco, tendo sido parcialmente demolido o Convento de Santa Cruz do Bussaco de que restou apenas uma parte, a entrada.
Nos anos trinta do século XX encontra-se concluída a Via Sacra. Em 1943 o Palácio torna-se Imóvel de Interesse Público, e só em 2016 foi reclassificado e tornou-se Monumento Nacional, juntamente com todo o perímetro interior da cerca.
A água é um dos elementos essenciais da vida na terra, e pode-se dizer também essencial na Mata do Bussaco, devendo-se contudo desta feita à própria natureza. A existência de termas na Vila de Luso é o resultado da proveniência do tal liquido da Mata do Bussaco.
Uma mata, que mata a sede pela abundância de água que a mantêm intacta, assombrosa, com os seus pequenos espaços em que se acumula, e os bicos de algumas fontes a brotar, e alguns cursos. À semelhança da Via Sacra, existir um percurso de água é uma realidade, que por vezes se cruza com o da Via Sacra.
Como um verdadeiro museu de plantas ao ar livre, pela qual um percurso faz os seus contornos, a floresta de plantas e árvores que incluem 250 espécies. A abundância de água faz o resto.
Situada na vertente sul da serra a 547 metros de altura, no interior da cerca, é um ponto de referência como de importante, uma vez que a poucos metros deste ponto existe uma das portas da cerca com o mesmo nome de cruz alta.
Coordenadas GPS da Cruz Alta: N 40 22.264' W 008 21.948'
Porta de Cruz Alta abriu-se para a passagem do General Wellington, pois este ficava instalado no convento e porque a Serra do Bussaco foi palco da Guerra Peninsular, melhor dito, da Terceira Invasão Francesa em 1810, e na qual a vitória sorriu para o exército anglo-luso.
Este era o ponto pelo qual Wellington supôs que o ataque Francês viria, centralizando aí o seu exército, e porque a serra era bastante densa e de difícil acesso.
Como resultado da vitória sobre os franceses, ergueu-se um Monumento Comemorativo à Batalha do Bussaco que se situa muito perto do Museu Militar sobre a mesma guerra. Ambos se situam entre as portas da Rainha e da Sula, no exterior da cerca.
Este ponto está situado na localidade Luso, na freguesia Luso.
Tendo a Mata do Bussaco dez entradas, esta localização indica uma das portas, a Porta das Ameias, que é uma das três onde se pode entrar de carro, e que dá acesso ao hotel e a outros dos pontos da Mata.
(Distância: 386 m N)
A Capela de São João Evangelista, no Luso e junto da fonte com o mesmo nome, é uma pequena capela do século XVIII, simples, com uma pequena capela-mor.
(Distância: 398 m N)
A Fonte de São João, situada junto da capela de São João Evangelista, no centro da vila do Luso, fornece aos visitantes uma água de nascente, de origem superficial.
(Distância: 454 m N)
Em 1726 Francisco Fonseca Henriques faz referência a um olho de água quente com poderes medicinais e terapêuticos, e em 1838, a Câmara da Mealhada mandou edificar um edifício em alvenaria ao redor da nascente. O século XX torna-se essencial para o desenvolvimento da estância termal do Luso.
(Distância: 456 m N)
O centro da Vila do Luso é uma rotunda de tráfego automóvel ou pedestre, o ponto de encontro para os habitantes ou turistas. Aqui se desenrola a vida diária do Luso, um verdadeiro epicentro, e igualmente o ponto de encontro das pessoas que a visitam.
(Distância: 482 m N)
Este edifício era a sede da empresa das Águas do Luso. Agora é um local de exposições sobre o mesmo tema, as águas minerais.
(Distância: 526 m N)
Sendo uma região habitada desde há muito tempo, devido às propriedades das suas águas termais, apenas no século XIX a localidade começou realmente a merecer o seu mérito. No final do século XIX deu-se o impulso turístico de referência da sociedade devido ao ministro do rei D. Carlos, Emídio Navarro, no desenvolvimento do Luso.
(Distância: 601 m N)
Um hotel para receber os frequentadores das termas, frequente nas localidades termais, foi uma criação do arquiteto Cassiano Branco. Tal como as termas, o hotel, já com 85 anos, foi-se remodelando de forma a acompanhar os tempos e as exigências dos clientes.
(Distância: 608 m W)
(Distância: 731 m N)
A Igreja Paroquial de Luso foi construída no século XVII e no século XIX teve uma campanha de obras da fachada principal e da torre sineira. Situada num plano mais elevado que a rua, com acesso feito por uma escadaria, destaca-se a torre sineira adossada na fachada direita e num plano um pouco recuado da fachada principal.
(Distância: 955 m SW)